terça-feira, 13 de setembro de 2016

Casa do Egresso da Pastoral carcerária abriga
ex-presos e prepara para volta à sociedade

Ex-condenados recebem abrigo para pernoite e alimentação durante dois meses, enquanto refazem documentos e buscam vagas no mercado de trabalho

Quando encostou a cabeça ao travesseiro, sentiu o cheiro da roupa de cama limpa e pode, finalmente, se esticar no conforto de um colchão, Fabio Oliveira Baungartner, 42, percebeu que a vida começava a seguir outro rumo. Longe do ambiente insalubre da cadeia, dormiu sem medo durante 15 horas seguidas, como não fazia desde a juventude, na casa da avó materna, em Rio Claro/SP. No dia seguinte, o banho demorado no chuveiro quente e o café da manhã servido à mesa o despertaram para um sonho cada vez mais real.  

“Fazia muito tempo que eu não dormia sossegado, nem assistia televisão”, diz Baungartner um dos sete inquilinos que já passaram pela Casa do Egresso Padre Ney Brasil, aberta em maio na Agronômica e mantida pela Pastoral Carcerária de Florianópolis em parceria com a Associação Beneficente São Dimas. Lá, condenados que já cumpriram suas penas e presos provisórios do Complexo Prisional da Trindade liberados pela Justiça têm abrigo, alimentação e assistência jurídica, social e psicológica enquanto providenciam novos documentos – carteiras de trabalho, identidade e título de eleitor e, em alguns casos, emprego em vista.

A um quilômetro do presídio, a casa impecavelmente limpa tem três quartos mobiliados com camas e armários, dois banheiros, cozinha equipada e com despensa abastecida e ampla varanda aberta à vizinhança. No pátio dos fundos, começam a surgir os primeiros canteiros de uma pequena horta para cultivo de temperos e saladas. A despesa chega a praticamente R$ 3 mil mensais, com aluguel, taxas de água e luz, salário do monitor e mantimentos.

 “Contamos, também, com doações de voluntários”, diz Márcia Maria de Oliveira da Veiga, presidente da Associação beneficente São Dimas. Homenagem ao padre Ney Brasil, fundador da Pastoral Carcerária em Florianópolis e principal idealizador do projeto de ressocialização, a Casa do Egresso é o recomeço também para Ricardo Ferreira Novaes, 37, monitor contratado pela Pastoral, que esteve preso de 2003 a 2009, em São Paulo.

Confira a reportagem completa do Jornal Notícias do Dia:
http://ndonline.com.br/florianopolis/noticias/casa-do-egresso-da-pastoral-carceraria-abriga-ex-presos-e-prepara-para-volta-a-sociedade

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Perspectivas de inclusão social para egressas 
do presídio feminino de Florianópolis

Por Susane Amaral Veira
Ao realizar estágio no Setor de Serviço Social da Vara de Execuções Penais do Fórum da Comarca de Florianópolis em Santa Catarina fiquei intrigada em conhecer mais sobre a situação das mulheres presas e egressas do sistema prisional.
Então, eu e a professora orientadora do meu trabalho de conclusão de curso elaboramos um projeto de intervenção, realizando entrevistas com as egressas com posteriores orientações e encaminhamentos aos recursos comunitários, visando a inclusão social. Percebemos a falta de atenção governamental para essas mulheres ao saírem das condições de aprisionamento. Todavia, essa situação de descaso não difere daquelas que se encontravam presas.
Quando nos deparamos com notícias de mulheres que cometeram crimes temos a impressão de serem exceções porque mesmo que dados estatísticos demonstrem o crescimento da população carcerária feminina não conseguimos associar a imagem da mulher e os papéis a ela designados na sociedade com o fato de praticarem um delito. Percebemos que a ideia da mulher inserida no “mundo do crime” está intrinsecamente permeada de preconceitos de gênero. A não aceitação das mulheres como autora de crimes, sobretudo aqueles que envolvem violência e crueldade, legitima a violência perpetrada a elas quando encarceradas por parte das outras presas e dos funcionários dos estabelecimentos penais e o descaso governamental quando se trata do encarceramento feminino.
Traçamos um perfil das mulheres entrevistadas. Observamos que 70% das mulheres sentenciadas que compareceram à Vara de Execuções Penais de Florianópolis, durante o nosso período de estágio são brancas, 30% são pardas e negras, sendo que 22% são pardas e 8%, negras. Considerando que a colonização da região é europeia, isso pode explicar a diferença catarinense dos índices nacionais, quanto à presença de mulheres presas ser de maioria branca. A maior parte tem entre 19 e 29 anos de idade, possui o ensino fundamental incompleto, é ou já foi casada ou convivente, tem pelo menos um filho e trabalham em serviços domésticos. Em relação às doenças, 7 delas disseram ter o Vírus da Imunodeficiência Humana – HIV e 5 informaram que possuem transtornos psiquiátricos. Referente ao uso de drogas, a maioria disse não ser usuária. No que concerne ao crime cometido, a maioria foi presa por tráfico de drogas e o tipo de crime foi relacionado à droga.
Veja o estudo completo:
http://desacato.info/mulheres-triplamente-penalizadas-perspectivas-de-inclusao-social-para-egressas-do-presidio-feminino-de-florianopolis/
(Fonte: Desacato.info)