Brasil prende demais e
não recupera o preso
Domingos Dutra, que presidiu CPI do
Sistema Prisional, diz que país tem 4ª maior população carcerária do mundo e,
se cumprir mandados em aberto, terá a 1ª.
Por Najla Passos
O
Brasil possui a quarta população carcerária do mundo. Se conseguir cumprir os
cerca de 600 mandatos de prisão que estão em aberto, se tornará o campeão
mundial. Quem afirma é o deputado Domingos Dutra (SDD-MA), que acabou se
tornando um especialista no tema, após presidir a CPI do Sistema Prisional, há
quatro anos.
Seu
raciocínio não contabiliza o grande de números de detentos que, mesmo com
direito à progressão de regime ou mesmo com a pena já cumprida, continuam
esquecidos nos cárceres pela morosidade do judiciário brasileiro. Ainda assim,
coloca em evidência mais uma contradição do sistema carcerário de um país
reconhecido pela impunidade: no Brasil, prende-se demais!
“Se
nós não começarmos a discutir alternativas à prisão convencional, tragédias
como a de Pedrinhas vão se tornar cada vez mais comuns”, alerta o deputado.
Segundo
ele, as soluções são várias. “Podemos apostar em mais penas alternativas, em
multas, em tornozeleiras eletrônicas. O que não podemos é acreditar que mandar
para a prisão é a única alternativa”, acrescenta.
Segundo
o deputado, a CPI que presidiu resultou na apresentação de 12 projetos de lei
destinados a melhorar sistema prisional brasileiro, além de 422 recomendações
ao poder público. Nenhum dos projetos foi aprovado pelo parlamento e nenhuma
das recomendações, adotadas pelos governos federal e estaduais, além do
Judiciário.
Ainda
assim, ele acredita que é possível avançar muito a partir da legislação atual.
“Nossas
leis são boas. O que falta é interesse dos gestores públicos do pais em
utilizá-las”, diz. Para Dutra, o sistema não funciona porque é fracionado.
“Você tem um parlamento federal que legisla, um governo estadual que executa e
um judiciário que aplica a lei, mas esses poderes não se comunicam. O juiz que
manda prender ao invés de arbitrar uma multa não sabe se o Estado tem dinheiro
para arcar com aquela despesa”, critica.
Recuperação
dos detentos
O
deputado Domingos Dutra acredita também que os investimentos emrecuperação dos presos
ajudarão a diminuir a população carcerária e evitar a reincidência, o que
influi ainda mais na superlotação dos presídios. De acordo com ele, do total de
presos brasileiros, 82% não estudam nem trabalham. No Maranhão, a média é ainda
maior: 93%.
“Após
a CPI do Sistema Prisional, aprovamos uma lei que beneficia o detento que
estuda ou trabalho com redução de um terço da pena. Mas as prisões precisam
oferecer condições deles exercerem essas atividades. Até porque o preso não
vive em uma ilha: ele deixa família do lado de fora e precisa de alternativas
para sustentá-la”, defende.
Ele
afirma que já apresentou diversas vezes à presidenta Dilma Rousseff, inclusive
oficialmente, no relatório da CPI, a sugestão de que a mão de obra
carcerária seja utilizada nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC). Mas reclama que, à exceção de uma iniciativa isolada no Ceará, a
recomendação jamais foi seguida.
Outra
sugestão do relatório aos governos estaduais é aproveitar as áreas ociosas
existentes no entorno da maioria dos presídios para atividades agrícolas. “Só
ao redor da Penitenciária da Papuda, no Distrito Federal, são 600 hectares de
terras. Por que não colocar os presos para plantar? Será que isso colocaria em
xeque os interesses das máfias das alimentações nos presídios?”, provoca.
(Fonte: www.cartamaior.com.br)
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