terça-feira, 23 de setembro de 2014

Prisões suecas: aqui se reabilitam seres humanos

País fecha cárceres, por falta de detentos, e comprova: presídios bárbaros só alimentam ódios; para combater criminalidade e reincidência, receita é outra

Por Cibelih Hespanhol

Quando Alexander Petrovich, assassino confesso de sua própria mulher, viu-se encarcerado entre as paredes de um presídio na Sibéria, passou a conhecer o dia-a-dia, detalhes e hábitos deste sistema.
E escreveu as seguintes linhas em seu diário pessoal: “não resta dúvidas de que o tão gabado regime de penitenciária oferece resultados falsos, meramente aparentes. Esgota a capacidade humana, desfibra a alma, avilta, caleja e só oficiosamente faz do detento ‘remido’ um modelo de sistemas regeneradores”. Se Alexander e sua história pertencem ao romance Recordações da Casa dos Mortos, de Dostoievski, publicado em 1860, seu drama ainda pode ser considerado absurdamente atual.
As recentes notícias sobre o fechamento de quatro prisões suecas reabriram discussões sobre a forma como lidamos com nossos detentos. Isto porque a falta de presos no país nórdico é atribuída principalmente à forma de organização de seu sistema penitenciário, que conta com investimentos na reabilitação dos prisioneiros; adoção de penas mais leves em delitos relacionados a drogas; e revisões judiciais que optam por penas alternativas em alguns casos, como liberdade vigiada.
Em situação semelhante, a Holanda já havia anunciado em 2012 a necessidade de fechar oito prisões e demitir mais de mil funcionários – pelo mesmo motivo: suas celas estavam praticamente vazias. O que tem a nos dizer estes países?

Brasil e EUA
Em sentindo inverso, nos Estados Unidos, país com maior população carcerária do mundo, o número de detentos chega a praticamente 2,3 milhões. E a taxa de reincidência é de 60% – ou seja, a cada dez pessoas que saem da prisão, seis voltarão para o crime.
O Brasil, que ocupa o quarto lugar no ranking de população carcerária, possui cerca de 500 mil presos, num índice de 274 detentos por 100 mil habitantes. Além disso, o número de detentos é 66% maior do que a capacidade que o sistema brasileiro possui de abrigá-los nas prisões. Em junho do ano passado, a ONU declarou em relatório oficial a necessidade do país “melhorar as condições de suas prisões e enfrentar o problema da superlotação”. Casos de violação dos direitos humanos, torturas físicas e psicológicas são recorrentes em presídios brasileiros: no Rio de Janeiro, um preso é morto a cada dois dias, principalmente de tuberculose e AIDS.
A abismal diferença entre prisões suecas e brasileiras (ou norte americanas) está nas teorias que fundamentam seus sistemas penitenciários. O país da pena de morte é o mesmo que viu sua população carcerária praticamente dobrar desde o início dos anos 90. Já o país que optou por uma política de reinserção social, em que uma agência governamental é encarregada de supervisionar os detentos e oferecer programas de tratamento para aqueles com problemas com drogas, vê agora suas prisões serem fechadas por falta de prisioneiros.
Em entrevista ao The Guardian, Kenneth Gustafsson, governador da prisão de Kumla, a mais segura da Suécia, declara: “existem pessoas que não querem ou não podem mudar. Mas na minha experiência a maioria dos prisioneiros quer mudar, e nós precisamos fazer o que pudermos para ajudá-los. E não é apenas a prisão que pode reabilitar. Isso é um processo combinado, que envolve a sociedade. Podemos dar educação e treinamento, mas quando essas pessoas deixam as prisões elas precisam de moradia e emprego”.
Em suma, o que a Suécia tem a nos ensinar é a noção contrária do senso comum de que “cadeia boa é cadeia infernal”: optar pela humanização do sistema penitenciário prova-se como a maneira mais eficaz de se verem reduzidos os índices de criminalidade. Ou nas palavras daquele personagem de Dostoievski, de duzentos anos atrás: “E já que [o detento] é de fato um homem, deve ser assim tratado. Um tratamento humano pode até devolver a condição humana mesmo àqueles que se esquivaram…”.

(Fonte: www.outraspalavras.net)

Veja o vídeo do funcionamento das prisões suecas:

quarta-feira, 17 de setembro de 2014


Mutirão Carcerário vai atender 650 detentos em Blumenau

O governador em exercício, desembargador Nelson Schaefer Martins, participou, nesta semana, da abertura do Mutirão Carcerário da comarca de Blumenau. No ato, também foi ampliado o projeto de monitoramento eletrônico pela colocação de tornozeleiras nos detentos do Presídio de Blumenau.
O objetivo do Mutirão Carcerário é agilizar o andamento dos processos dos detentos já condenados da região. Uma equipe de cinco juízes e 24 servidores vai analisar todos os cerca de 650 casos de presos condenados na comarca, identificando aqueles que já têm direito, por exemplo, a benefícios de redução de penas. A proposta é, também, dar um parecer para aqueles ainda não contemplados, apontado uma expectativa para aprovação do benefício.

"Os mutirões têm garantido resultados admiráveis com a redução de penas e a liberação de presos que já cumpriram as suas reprimendas. Ao mesmo tempo, isso atenua o problema da superpopulação carcerária e garante a dignidade dos reeducandos do nosso sistema prisional", afirmou o governador em exercício.
O mutirão será realizado em duas semanas, sempre de segunda à sexta, entre os dias 15 e 19 e entre 22 e 26 deste mês. A organização é do Núcleo de Execução Penal da Coordenadoria de Execução Penal e da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (Cepevid), órgão coordenado pela desembargadora Salete Silva Sommariva.
"Estamos aqui porque estamos convencidos de que só oferecendo uma vida digna, trabalho e educação com um regime disciplinar rígido será possível reinserir os detentos na sociedade e dar as respostas que todos queremos, combatendo dessa forma a violência que preocupa o país", destacou a desembargadora Salete.

Tornozeleiras eletrônicas
A iniciativa de controle de detentos por meio de tornozeleiras eletrônicas teve início com um projeto-piloto em Blumenau em maio deste ano. No ato, sete novos detentos que passam a cumprir prisão domiciliar receberam o equipamento, totalizando 30 presos atualmente monitorados pelas tornozeleiras eletrônicas. O aparelho é fixado no tornozelo, sendo fechado por uma trava de segurança que é acionada se rompida.
O objetivo é reduzir o número de detentos dentro das unidades prisionais, oferecendo ao Judiciário uma nova forma de aplicação de penas. Os juízes é que definem os casos em que a tornozeleira é aplicada. "Essa é uma forma que encontramos de colocar os nossos apenados na sociedade, no seu meio familiar e seu entorno, justamente para que possam ir se adequando ao convívio social. É uma de permitir que eles saiam daquelas paredes frias do presídio e possam voltar a produzir e reintegrar-se e, com isso, também combatemos o problema da superocupação carcerária", acrescentou o governador Schaefer Martins.

Penitenciária de Blumenau
O governador em exercício também lembrou dos avanços do projeto de construção do novo complexo penitenciário de Blumenau. Em agosto, o Governo do Estado autorizou a aplicação de R$ 9,42 milhões para desapropriação de uma área particular de 336,4 mil metros quadrados que será destinada para a construção do complexo na cidade, com cerca de 1,2 mil vagas. O terreno está localizado na Rua Silvano Cândido da Silva Sênior, no bairro Ponta Aguda.
O processo de contratação da empresa para a construção também já está em andamento e, assim que for concluído, será possível assinar o contrato para o início das obras.
A primeira estrutura a ser levantada no complexo será uma penitenciária com 600 vagas para os detentos já condenados. Esta parte da obra deve custar mais de R$ 30 milhões. Mas o local também abrigará um presídio provisório (com 352 vagas para aqueles que ainda aguardam julgamento) e uma estrutura para regime semiaberto (com outras 240 vagas).
Hoje, o atual presídio de Blumenau tem 472 vagas. Após a construção do novo complexo, o atual prédio será demolido e será definido um novo destino para a área que pertence ao Governo do Estado.

Fonte: Secretaria de Justiça e Cidadania