Lançamento do documentário “Sem Pena”
Documentário produzido pelo Instituto
de Defesa do Direito de Defesa busca sensibilizar a sociedade para o equívoco
do encarceramento em massa
Em noite de estreia no Cine
Livraria Cultura, em São Paulo, com a presença de autoridades e advogados
consagrados, o documentário "Sem Pena" provocou a plateia.
A película foi selecionada
para exibição no Festival de Brasília dentre outros 600 títulos, e saiu de lá
com a consagração do prêmio do Júri Popular.
O projeto foi idealizado
pela ex-diretora do instituto Marina Dias e finalizado sob a gestão do atual
diretor, o advogado Augusto de Arruda Botelho, cujas palavras de abertura da
sessão enfatizaram o papel do instituto na sensibilização da sociedade para o
equívoco do encarceramento em massa.
Linguagem propositadamente
incômoda
Em uma linguagem
cinematográfica aflitiva, sem que sejam dados a conhecer os rostos dos
depoentes, o argumento é aberto pela narrativa de casos individuais que aos
poucos vão revelando não só debilidades e injustiças, mas o completo non sense
do sistema sob todos os ângulos de que é examinado – inclusive o econômico,
pois os contribuintes pagam cerca de R$ 1.350,00 por mês para que a pessoa saia
do cárcere muito mais perigosa e com pouquíssima chance de se reintegrar à
sociedade. Enquanto falam os entrevistados, cenas do cotidiano em presídios são
mostradas.
À medida que o filme avança,
os casos pessoais vão cedendo espaço para contribuições de profissionais
ligados ao sistema carcerário. No momento em que falam, o espectador não sabe
de que lugar do discurso vem aquela voz – os rostos continuam invisíveis – mas
a estranheza inicial vai cedendo lugar a uma certeza: da cozinha do presídio,
dos corredores do tribunal de justiça de São Paulo, da sala de audiências do
fórum criminal, do cartório de uma das varas desse mesmo fórum, todos os
personagens ostentam algo em comum: não creem, a partir de suas experiências
profissionais, que o sistema carcerário possa trazer algo para alguém além de
inabilitá-lo para o convívio, de destruir todas as possibilidades de relações
sociais.
Terminado o filme, são
identificadas rapidamente, enfim, as vozes que por uma hora e trinta minutos
ousaram incomodar as certezas da plateia. Ao lado de detentos e ex-detentos,
falou um delegado de polícia, um agente penitenciário, um professor de
criminologia, um padre da pastoral carcerária, um psicólogo, uma assistente
social, um juiz, um promotor, uma desembargadora.
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