RS institui política de
assistência para filhos de apenados
Por Débora Fogliatto
Partindo da
perspectiva de que os filhos de homens e mulheres em privação de liberdade
estão em situação de extrema vulnerabilidade, a deputada Miriam Marroni criou o
projeto de lei que estabelece a Política Estadual de Direitos Humanos
e Assistência a Filhos de Pais Privados de Liberdade ou submetidos à medida
sócio-educativa.
A proposta foi aprovada
na Assembleia Legislativa nesta semana por unanimidade, após emendas
protocoladas por deputados que inicialmente eram contrários ao projeto. Agora,
o texto depende da sanção do governador José Ivo Sartori para tornar-se lei.
O projeto institui
a realização de ações que possibilitem o acolhimento de crianças cujos pais
estejam encarcerados, através de serviços públicos já existentes da área da
segurança, saúde, acompanhamento psicológico e educação.
Inicialmente, será
feito um cadastro, identificando quantos filhos os apenados têm e quem são, o
qual deverá ser mantido sob sigilo dos órgãos envolvidos no projeto. “Por
enquanto, não há um cadastro, não se sabe quantas crianças são, onde estão
e o que estão fazendo”, aponta Miriam.
Por isso, a
Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe) seria a porta de entrada
para a nova política, assim que o pai ou mãe entrar no presídio. “Quando alguém
é preso, preenche uma ficha, e a partir do projeto ela também irá tratar da
questão dos filhos, de forma detalhada”, explicou a deputada.
Em seguida, a
Susepe passa as informações para a Secretaria de Direitos Humanos, que
encaminha para os municípios, os quais acolhem essas crianças a partir de busca
ativa em serviços como o Conselho Tutelar, Rede de Atendimento Psicossocial e
turno integral nas escolas. “A escola é o centro de tudo”, avalia Miriam.
O Ministério
Público, a partir da Procuradoria da Infância e Juventude, realizou no ano
passado o levantamento dessas crianças entre as detentas da Penitenciária
Feminina Madre Pelletier.
Das cerca de 230
mulheres presas no local, os promotores constataram que 121 têm
um ou mais filhos com idades entre zero e 17 anos.
“Nós
constatamos que essa é uma população extremamente vulnerável. Muitas estão
na guarda de fato de alguém, mas não têm situação jurídica regularizada”,
relatou a promotora Maria Regina de Azambuja. O fato de as mães estarem detidas
faz com que a pessoa que fica responsável pelas crianças tenha receio em
regularizar a situação de guarda, o que dificulta o acesso das crianças aos
seus direitos.
As promotoras
constataram ainda que a maioria das detentas que são mães tem menos de 40 anos
e não completou o Ensino Fundamental. Apenas 12% completaram o Ensino Médio, e
somente uma tinha Ensino Superior.
“Essa população
nunca foi objeto de nenhuma demanda, são crianças que são muito vulneráveis e,
principalmente, marginalizadas pela situação dos próprios pais. Quando a mãe é
presa, muitas delas são encaminhadas para alguém da família, às vezes até
pessoas muito jovens, que já tem outros filhos e assumem essa responsabilidade
informal. Então são situações que justificam esse projeto de lei”, garante
Maria Regina.
O cadastro
realizado pelo MP é a primeira etapa do que está previsto no projeto, e deve
ser seguido pela efetivação das políticas de acolhimento e direitos
humanos. A proposta também objetiva que haja a capacitação desses
equipamentos para acolher de forma especializada as crianças nesta situação.
“Compreendemos que
a criança está abandonada e pode se tornar um bandido se não for atraída para
outras atividades. A criança tem que ser seduzida, não obrigada. Isso a
incluiria numa vida mais saudável”, esclarece Miriam.
O próximo passo é
realmente “fazer isso funcionar” destacando que esses direitos já estão
previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). “Mesmo
assim, sabemos que um número muito grande está à margem. Constatamos que
95% das crianças não recebe auxílio psicológico, sendo que estão
nessa situação de extrema vulnerabilidade”, apontou, referindo-se aos filhos e
filhas das detentas do Madre.
Miriam aponta que,
embora os riscos de cometer um crime sejam maiores para crianças com pais ou
mães apenados, o projeto busca evitar que esse seja seu destino. “Ninguém nasce
bandido. Por isso, o projeto beneficia tanto essas crianças quanto a sociedade,
porque lida com segurança e com oportunidades. Há muito preconceito sobre isso,
de dizer que é um privilégio, um apoio para filhos de bandidos, mas [o
projeto] é exatamente de prevenção à criminalidade”.
Fonte: Sul21
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