O
equívoco das grandes prisões
Por
Marcos Erico Hoffmann, professor de Florianópolis (Artigo publicado no Diário
Catarinense, 9/11/2013)
Desde que Michel Foucault afirmou que as prisões
constituem um lugar inútil e cheio de inconvenientes, mas uma detestável
solução da qual ainda não podemos abrir mão, procura-se uma saída para o
impasse. Como sucede em outros problemas sem solução imediata, as alternativas
têm convergido para a redução de danos. Por sua vez, a maior parte dos danos
advém da variável tamanho. Quanto maior, maior a necessidade de formalizar o
controle do ambiente com normas e regras, sempre para anular o poder do
recluso, que poderia se configurar em fugas e rebeliões.
Ocorre que preso “disciplinado” ou anulado nada tem
a ver com cidadão preparado para a vida em sociedade. Ao contrário, dependendo
do que vivencia no cárcere, pode sair ainda mais raivoso e embrutecido. Os problemas
se agravam quando o número de presos é elevado. Na tentativa de anular o poder
dos internos, os servidores veem-se obrigados a tratar o mais inexperiente dos
presos como sujeito de elevada periculosidade. E cada vez fica mais distante
qualquer utopia de individualização da pena ou de promover educação do interno.
Esse processo de “coisificação” não atinge apenas o
recluso. Os servidores, principalmente os de grandes prisões, rapidamente
assumem os papéis e a cultura que o novo ambiente lhes oferece. As relações
entre presos e funcionários tornam-se ainda mais tensas e belicosas, pois cada
vez mais um vê ao outro como ameaça, seja real ou imaginada. Na dúvida, trata
como inimigo. Como resultado desta guerra, maior embrutecimento e doenças
psicossomáticas dos dois lados e um perdedor: a sociedade. Já é tempo de
pensarmos em penitenciárias regionalizadas e que não ultrapassem 200 internos.
Quanto menor a prisão, menos danos trará à segurança pública.
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