Quase metade dos
detentos no país aguarda julgamento, diz ONU
Documento mostra que cadeias brasileiras têm 200
mil presos a mais que a capacidade
As cadeias
brasileiras têm quase 200 mil detentos a mais que a capacidade e 44% dos
detentos — 217 mil — ainda aguardam julgamento.
A denúncia é da ONU (Organização das Nações Unidas) que, em um informe que será apresentado em setembro a governos de todo o mundo, acusa o Judiciário de "ineficiente" e alerta para a "superlotação endêmica" das cadeias.
A denúncia é da ONU (Organização das Nações Unidas) que, em um informe que será apresentado em setembro a governos de todo o mundo, acusa o Judiciário de "ineficiente" e alerta para a "superlotação endêmica" das cadeias.
O documento,
preparado por um Grupo de Trabalho da ONU que visitou o País em março, será
levado a debate a partir de 8 de setembro, em Genebra, durante a reunião do
Conselho de Direitos Humanos da ONU. Uma versão preliminar do informe, obtida
pelo Estado, revela um raio X alarmante.
O Brasil tem a
quarta maior população carcerária do mundo e os peritos da ONU acusam
diretamente o sistema judicial. De acordo com o informe, uma parte desses
prisioneiros pode esperar "meses e até anos" para ser julgada.
— Durante esse
período, os detentos frequentemente nem sabem o status de seu caso.
"A
presunção de inocência que consta da Constituição parece que na prática foi
abandonada por juízes", declara o informe da ONU. A entidade também alerta
que a "pressão da opinião pública" tem levado juízes a manter
suspeitos detidos.
A ONU também
denuncia a superlotação das prisões. Segundo a entidade, existem hoje no Brasil
quatro prisões federais e 1.100 estaduais. Se a capacidade é para 355 mil
detentos, o que se vê é a presença oficial de 549 mil. "Políticas públicas
de mostrar firmeza contra o crime levaram a uma tendência de encarceramento em
massa."
Assistência
Outra crítica da
ONU se refere à falta de assistência legal a milhares de detentos no Brasil.
Segundo ela, parte importante dos detentos não tem como pagar um advogado.
— A maioria das
pessoas na prisão é jovem, indígena, afrodescendente ou pobre.
A ONU apela ao
governo federal e administrações estaduais que implementem penas alternativas e
alerta que, apesar das emendas feitas ao Código Penal em 2011, não houve
redução substancial de prisões.
Em setembro,
quando o informe for apresentado, o governo terá a oportunidade de se defender
das acusações.
Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo.