segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Projeto busca recuperar as detentas dos
presídios de Florianópolis e Tijucas

Grupo de voluntários realiza oficinas de costura e produção de roupas, bolsas e acessórios com presidiárias

Minutos que duram horas, minutos que duram frações de segundos. Quem sente como passa o tempo, sente como o tempo escorre pelas mãos no breve instante da plena liberdade ou na infinitude do cárcere. Na penitência de uma presidiária, tempo de sobra para contar o tempo que a separa da emancipação.
"Professora, quero as minhas horas. O que importa para mim é o tempo". Foi isso que a presidente da ONG Trama Ética, Neide Schulte, ouviu de uma detenta no presídio feminino de Tijucas quando perguntou quanto deveria cobrar por uma peça de roupa confeccionada por ela dentro da cadeia, fruto de uma oficina realizada pela entidade.

— O tempo lá dentro é muito longo. Cada dia a menos lá é um tempo a mais fora — comenta Neide, ao lembrar que a cada três dias de aula ou trabalho dentro dos presídios, é um dia de remissão da pena imputada à presa.
Na cadeia, há pouco o que fazer diariamente. A monotonia do vazio alarga o tempo e consome a vitalidade da encarcerada. Há, ainda, as agruras da insalubridade: comida ruim, buraco no chão da cela para as necessidades e jornais velhos para conter o fluxo menstrual.
— É uma realidade dura. Só quando você se aproxima é que entende toda a dificuldade — conta Neide.
Foi sensibilizada por esses e outros problemas da lógica punitivista do sistema prisional brasileiro que a professora do curso de Moda da Udesc criou a ONG Trama Ética. Atualmente, Neide negocia com o governo do Estado a reativação do curso de crochê para as cerca de 150 detentas do presídio feminino de Florianópolis e as 70 de Tijucas.

O projeto foi realizado com sucesso entre 2013 e 2016 e focou, principalmente, na ecomoda – confecção de roupas, bolsas e acessórios aproveitando roupas inutilizadas, retalhos e outros tipos de resíduos. No mês passado, inclusive, os produtos feitos pelas presas foram levados para exposição e venda na Feira Nacional de Negócios e Artesanato (Fenearte), em Recife (PE).
— O principal foco do trabalho é a capacitação de pessoas, porque hoje a cadeia não reconstrói ninguém, só piora. O ideal é que a justiça seja restitutiva, não punitiva: em vez da pessoa ficar jogada na prisão, que ela estude e trabalhe lá dentro — afirma Neide.

Fonte: Jornal Hora de Santa Catarina
Confira a matéria completa neste link: goo.gl/TTH1aE

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