Acordo entre STF e DPU viabiliza acompanhamento a mais de 3 mil cartas de presos sem condições econômicas
O Supremo Tribunal Federal (STF) e a
Defensoria Pública da União (DPU) firmaram no início de dezembro acordo de
cooperação técnica para acelerar a resposta a cartas encaminhadas à Central do
Cidadão do STF por presos sem condições econômicas. O presidente do STF,
ministro Dias Toffoli, afirmou que o compromisso fortalece o relacionamento
interinstitucional entre o STF e a DPU e cria um canal de comunicação direta,
rápida e eficiente com a DPU, para que sejam tomadas as providências
processuais e extrajudiciais pertinentes em cada caso.
“Esse acordo gerará demandas para a
Defensoria, mas gerará uma prestação e uma assistência melhor, principalmente
àquelas pessoas mais desvalidas, despossuídas de cidadania e, em grande parte,
despossuídas de sua própria liberdade ou de alguém a quem se socorrer”, afirmou
Dias Toffoli.
O defensor-geral público, Gabriel Faria
Oliveira, afirmou que, a partir deste termo, a DPU assume um de seus papéis,
que é tentar viabilizar a necessidade de cidadãos hipossuficientes que escrevem
ao STF em busca da concretização de seus direitos. “Vamos dar a melhor
qualificação técnica a essas cartas, para que elas possam chegar ao STF na
forma de petições formuladas por defensores públicos, ou serem encaminhadas a
outras instâncias para análise”, explicou.
O STF recebe, em média, 3.150 cartas de
cidadãos em busca de revisão de processos criminais, benefícios penais,
informações processuais ou de providências correlatas, mas a maior parte está
relacionada a questões referentes a outras instâncias ou, até mesmo, órgãos de
assistência social. Das correspondências recebidas pela Central do Cidadão, 250
em média correspondem a pedidos de Habeas Corpus, mas apenas 10% deles são de
competência do Tribunal. Até então, as cartas eram analisadas para serem
encaminhadas aos tribunais e instâncias cabíveis. A partir de agora, a DPU
examinará cada caso e encaminhará o pedido à instância correta, seja ela
judicial ou extrajudicial.
Um dos responsáveis pela concretização
dessa iniciativa, o assessor-chefe processual da Presidência do STF, André
Nogueira dos Santos, explica que o acordo de cooperação técnica permitirá um
melhor direcionamento das cartas recebidas pelo Tribunal. Segundo ele, o
objetivo da parceria com a DPU é proporcionar uma prestação jurisdicional mais
célere à sociedade, além de garantir orientação jurídica integral e gratuita
aos necessitados.
“Esse acordo fará com que a Defensoria
Pública alcance um número maior de pessoas que dependem e precisam de um
defensor público para auxiliá-las em questões judiciais”, ressaltou. Conforme o
assessor, a assinatura do documento irá conferir maior efetividade aos
preceitos fundamentais, tendo em vista que o acesso à Justiça se tornará mais
abrangente e facilitado.
A juíza instrutora do gabinete da Presidência
do STF, Gianne de Freitas Andrade, também participa do processo de tratamento
das cartas. De acordo com ela, além de dar mais efetividade à prestação
jurisdicional e proporcionar atendimento adequado aos cidadãos que procuram o
STF, o acordo de cooperação técnica estreitará a relação entre Poder Judiciário
e Defensoria Pública, fortalecendo ambas as instituições.
“A meu ver, tão importante quanto a
prestação jurisdicional com qualidade e eficiência é a sensibilidade no
tratamento dos pleitos encaminhados à Corte”, ressalta. Para a juíza, as cartas
contêm pedidos de toda ordem e representam, muitas vezes, a última esperança de
cidadãos com pouco ou nenhum acesso à informação e à advocacia, privada ou
pública, funções essas essenciais à justiça. “Com o acordo, o atendimento a
esses cidadãos será individualizado e mais efetivo”, avalia a juíza.
Temas
As correspondências chegam à Central do
Cidadão do STF pelos Correios ou por formulário eletrônico. Muitas delas dizem
respeito a benefícios previdenciários, saúde (solicitação de remédio de alto
custo, tratamento médico e cirurgia), educação (pedidos de doação de livros e
exemplares da Constituição Federal) e solicitações de informações por
estudantes. As cartas também apresentam manifestações da sociedade sobre
processos em trâmite ou já julgados pela Corte, pedidos de prioridade na pauta
de julgamentos, solicitação de celeridade para a análise de recursos
extraordinários com repercussão geral, além de moções de assembleias
legislativas e câmaras municipais. Recentemente, as demandas mais frequentes
estão ligadas à Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442,
que discute a descriminalização do aborto.
Questões penais também são discutidas nas
correspondências e referem-se a pedidos de liberdade, revisões penais,
progressões do regime de cumprimento de pena, assistência jurídica, informações
processuais e auxílio reclusão (benefício previsto na Lei de Execução Penal –
LEP). A maioria das cartas recebidas na Central do Cidadão do STF são provenientes
dos Estados de São Paulo e de Minas Gerais, onde estão localizadas as maiores
populações carcerárias do país.
Manuscritas
Quase a totalidade das correspondências dos
presos são manuscritas. Segundo o gerente da Central do Cidadão, Jean Soares, o
Supremo já recebeu alguns pedidos de habeas corpus escritos em sacos de pão,
guardanapo e papel higiênico, casos em que a área confere o mesmo tratamento
das demais correspondências, dando o encaminhamento necessário às solicitações.
Jean conta que, no momento em que são recebidas pela Central do Cidadão, as
cartas passam por uma triagem, são registradas e, por fim, encaminhadas. A
Central remete um ofício para a ouvidoria do órgão competente ou, no caso do
Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), para a unidade de atendimento ao
preso. Atualmente, o tempo de resposta quanto ao tratamento dado às demandas é
de 1 dia útil.